SPOILER ALERT (O texto a seguir contém spoilers, então sugiro assistir o filme antes de ler a análise)
Antes de começar a análise é preciso definir alguns pontos pois o filme apresenta muita subjetividade em sua narrativa, o que deixa muitas questões interpretativas. Uma análise psicológica necessita de objetividade, por mais que o ser humano seja subjetivo em diversos aspectos, então os pontos definidos para esta análise serão: 1) considerar apenas a visão de Jake e do Zelador; 2) maior parte do que será descrito são interpretações minhas sobre o que o filme apresenta pois sua maior parte é subjetiva. Dito isso, podemos dar continuidade.
Como foi dito antes, muito do que foi apresentado é subjetivo, mas ainda assim é possível fazer uma análise psicológica, no caso, de Jake. É possível entender que o Zelador é o protagonista e está relembrando de seu passado, assim como um pensamento, o filme transborda e flui entre lembranças e imaginação. Altera entre o presente, mostrando o trabalho do Zelador e seus pensamentos que são representados pelo Jake e Lucy, esta que tem sua identidade alterada constantemente pela mente do Zelador. Vamos tentar explicar um pouco desta mente.
Considerando que todos os personagens são produtos da mente do Zelador, é possível dizer que tudo que estes dizem sentem ou pensam são pensamentos do mesmo. Nosso protagonista apresenta em muitos momentos do filme, pensamentos negativos e disfuncionais sobre o mundo e si mesmo, com grande foco em seus defeitos, fracassos e perdas, cenas como o grande foco e incômodo de uma sujeira do canto da boca, assuntos desconfortáveis como as poucas conquistas acadêmicas, a repetição da frase titular deste filme, o relacionamento com seus pais também são comportamentos que refletem seus pensamentos disfuncionais. Para a Terapia Cognitivo-Comportamental isso é comum para pessoas que sofrem com Transtorno Depressivo Maior, porém como muito do filme é de interpretação subjetiva é difícil esclarecer o diagnóstico.
Uma das maiores certezas que podemos ter no filme são os pais de Jake, estes alteram de idade e possuem personalidades nada agradáveis, mas esta é apenas a visão que o protagonista tem sobre eles. Seu pai em nenhum momento direciona o olhar para Jake, mantendo sua atenção apenas em Lucy (logo explicarei melhor sobre ela). Para Jake seu pai é um homem simplista, que não consegue entender a profundidade das coisas e que possivelmente nunca deu a devida atenção para seu filho, além de possivelmente ter sintomas de Alzheimer. Sua mãe não parece se orgulhar muito de seu filho também, para ela a única conquista memorável do filho foi em uma atividade escolar, mas esta ainda está em busca de mostrar-se uma mãe perfeita, que cuida da casa, do marido e do filho, mesmo que o sentimento de Jake seja que ela nunca o compreendeu de verdade, e mesmo incomodado com sua mãe, seu destino foi cuidar da mesma quando atingiu uma idade mais avançada.
A Lucy parece representar uma mistura dos desejos e gostos que o protagonista possui/possuiu, desde artes, poemas, física e cinema. No decorrer do filme vemos que a personagem assume diferentes nomes, diferentes roupas e diferentes personalidades, pode ser a busca do protagonista em imaginar uma namorada perfeita, mas a insegurança do protagonista faz com que ele tenha dificuldades de aceitar até sua própria criação.
Provavelmente muito do que acontece com Lucy e Jake são reflexos do que o Zelador está vivendo, como o tempo frio com neve cobrindo o carro, o desejo de ter vivido um amor como no filme que assistiu em seu intervalo. O Zelador é um homem solitário, não parece tem muito envolvimento interpessoal, assim internaliza pessoas que já teve um leve contato no dia a dia, como a Lucy que ele avistou pela janela logo no começo e meninas da escola em que trabalha que as representou no restaurante de sorvete no meio da estrada. O protagonista imagina que a menina de cabelos pretos também tem algumas dificuldades semelhantes às que ele possui, por isso imagina machucados em seus braços.
As cenas do Zelador, por mais que sejam consideradas cenas da realidade, é necessário afirmar que alguns momentos demonstram possíveis alucinações ou apenas pensamentos vívidos, como as cenas do casal dançando entre os corredores e o final onde ele visualiza um porco com vermes em sua barriga. Durante os créditos finais, vemos o carro do Zelador coberto de neve, considerando que a última cena, antes dos créditos, tenha sido uma alucinação, é possível concluir que ele não saiu do carro, o ato de tirar as roupas também pode ser sinal de hipotermia, algo comum de acontecer, sintoma que acontece nos estágios finais chamada de desnudamento paradoxal. Assim é possível abrir a hipótese de um suicidio, lembrando que anteriormente, Lucy questiona quanto tempo precisa para alguém morrer de hipotermia, além da repetição da frase titular deste filme, pode ser relacionado à idealizações suicidas.
Estou Pensando em Acabar Com Tudo é um filme de difícil compreensão e certamente impossível de entender tudo assistindo apenas uma vez, ainda é possível teorizar muito do que foi apresentado, mas decidi descrever aquilo que mais importa em uma análise psicológica. Assim termino este texto com uma frase, na verdade um questionamento do pai de Jake que imagino se tratar em parte de como é feito uma análise psicológica, onde buscamos compreender, explicar e extrair o máximo de conteúdo para uma análise, muitas vezes desafiador e difícil de compreender, às vezes não parece ter sentido, mas com um estudo prévio com certeza não é impossível:
"Como é possível saber se o quadro de um campo é triste sem uma pessoa triste parecendo triste no campo?"
Edição by_ YahVarella
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