(ALERTA SPOILER)
Chloe é uma adolescente que sofre de Arritmia Cardíaca, Asma, Diabetes, Hemocromatose e Paralisia nas pernas. Espera ansiosamente por uma carta respondendo se conseguiu sua vaga para estudar numa universidade, mas de repente seu mundo vira de cabeça pra baixo quando começa suspeitar de suas mãe, achando que ela possa estar tramando algo contra ela.
Um filme de suspense excelente que consegue deixar-nos ansiosos de começo ao fim. Seu grande destaque - além das formas que a menina busca fugir de seu cativeiro - é a mãe, que durante 17 anos adoeceu a menina para que ela não fugisse e dependesse dela para tudo. Daiane perdeu seu bebê logo depois que ela nasceu, mas não conseguiu suportar a perda, então sequestrou outro recém nascido no hospital e fugiu para nunca mais ser encontrada.
Mas isso não bastava para Daiane, pois ela sabia que anos mais tarde sua filha poderia querer sair de casa e ter sua independência. Isso era algo insuportável, assim achou um meio de garantir que Chloe necessitasse de sua mãe para sempre, adoecendo-a com um remédio para cachorros, forjava a prescrição e entregava para sua filha tomar (possivelmente esta era a causa de suas doenças descritas acima). Levou-a em vários médicos para convencê-la de que estava realmente doente. Assim ficava fácil manipular a vida de sua filha, impedindo-a de sair e mesmo ao sair era sempre acompanhada - e vigiada - além de ter sua educação escolar em casa.
Mas as coisas começam a ficar mais radicais quando Chloe percebe que sua condição é por culpa de sua mãe e que ela estava mantendo-a presa sua vida toda. Neste momento Diane escolheu colocar a adolescente em coma, assim ela nunca mais iria questionar e toda a liberdade de sua filha, estaria na palma da mão.
Por sorte, Chloe é mais esperta e consegue se livrar da situação, além de revertê-la. Mas afinal Diane é só mais uma psicopata desses filmes de suspense? Ou não? Na verdade o que Diane possui é Transtorno Factício Imposto a Outro (Popularmente conhecido como Síndrome de Munchausen por Procuração) e seus sintomas são:
Falsificação de sinais e sintomas, físicos ou psicológicos, ou indução de lesão ou doença em outro (esta fraude deve ser identificada) - assim como ela faz ao entregar os remédios caninos à sua filha;
Apresentar o outro (a vítima) a terceiros como doente, incapacitado ou lesionado - no filme a atendente da farmácia já conhecia a Chloe, mas não tinha consciência de que seus sintomas eram induzidas;
O comportamento de fraudes é evidente, mesmo sem recompensas óbvias - até então o motivo que vemos é a Diane ter medo e ansiedade em ficar sozinha e não ser mãe, pois este seria seu maior desejo, não há motivos materiais (como dinheiro e bens) aparentes;
Este transtorno não é semelhante a delírios e psicoses - o fator que define o Factício são as falsificações de sinais e sintomas.
*A vítima pode receber diagnóstico de abuso
Constantemente vemos Diane utilizar várias formas de manipular Chloe, esconde correspondência da universidade, desliga o elevador para não descer as escadas, forja a receita médica prescrita, acorrenta a garota, prepara uma solução para colocá-la em coma, coloca outro paciente em estado grave para sequestrar novamente sua filha do hospital. Definitivamente a mãe necessita da filha. Normalmente casos assim surgem após uma hospitalização de um filho ou de outro dependente da pessoa. É possível que a mãe possua crenças disfuncionais que a fazem acreditar que nunca conseguiria viver sem ser mãe.
Fuja certamente sabe muito bem como nos deixar com o coração na garganta de tanta tensão e coloca em situações mais plausíveis de acordo com as condições físicas de Chloe, além de trazer um plot twist interessante que coloca a personagem exatamente com o mesmo diagnóstico que a mãe, mas aparentemente seu motivo é apenas vingança.
Abaixo segue um diálogo interessante que mostra esta crença disfuncional que a mãe possui: “Diane - Querida, tudo o que eu fiz foi por você, Chloe. Querida, me dê a mão.”
“Chloe - Você não fez isso por mim.”
“Diane - Não é verdade.”
“Chloe - Fez isso por você.”
Referência:
DSM-V, Manual de Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais 5.ª edição.
Comments