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O amor em The One

Imagine encontrar sua alma gêmea a partir do seu DNA. The One utiliza esta frase como pilar para sua série, abordando a suposição de existir uma alguém ideal para cada um e para descobrir é só se inscrever num aplicativo - enviar um fio de cabelo - que logo você poderá conhecer a pessoa perfeita para ti. A série representa esta ideia como se fosse algo mágico, que ao encontrar torna real o “amor à primeira vista”, o sentimento é impulsivo, com a paixão ardente desde o primeiro “Oi”, porém utiliza uma justificativa hipotética científica. Mas a proposta da série é possível? Ou apenas ficção?

Silva, Trindade e Junior (2013) discorrem em seu artigo - Teorias sobre o amor no campo da Psicologia Social - que, dentro da psicologia, podemos encontrar diversas teorias sobre o que é o amor:

  • Para Freud é a busca do complemento de si mesmo - o que falta em mim que posso encontrar no outro - fazendo assim o narcisismo importante para construção de relações amorosas, movida pela libido (desejo);

  • Para Reik existem duas forças motivadoras, o desejo, interesse apaixonado por um outro corpo e o amor, interesse apaixonado por outra personalidade;

  • Para Maslow também existem dois tipos de amor, o D-love (amor deficiente), semelhante à proposta de Freud, com o objetivo de sanar suas próprias deficiências e o B-love (amor) a capacidade de amar os outros pelo que elas realmente são.

Estes são alguns exemplos de teorias psicológicas do amor. Mas ainda assim The One propõe algo além, a questão da semelhança genética (sequência específica do DNA semelhante a de outra pessoa), na série o amor pode funcionar como as propostas acima, mas ao encontrar a pessoa feita para ti, quebra todas as teorias, não importa se você encontra-se num relacionamento, esta pessoa será irresistível ao seus olhos. Não há uma explicação aprofundada na série, apenas esta relação genética. Imagino que o amor apresentado na série possa ser algo próximo da teoria de Freud e seu amor narcisista, mas em nível que possa se tornar dependência.

Dentro da série existem casos de pessoas casadas a anos, que buscam divórcio após encontrar seu Match - termo usado na série para especificar aqueles que encontraram seu par pelo aplicativo The One. Podemos acompanhar a experiência de alguns personagens que tiveram seus relacionamentos afetados pelo aplicativo.

David viu seu casamento chegar ao fim pois sua esposa encontrou seu Match, com dificuldades em aceitar a separação agride o novo parceiro de sua esposa, além de ameaçá-la - resultando em medidas protetivas, afastando-o até mesmo de seus filhos.

Hannah Bailey possui crenças negativas e de desamor (segundo as teorias da Terapia Cognitiva Comportamental) - acredita que seu marido pode deixar de amá-la se não for seu Match - faz o teste com seu DNA, mas descobre que Megan sua colega de Yoga é o par perfeito para ele. E ao descobrir, Mark também fica indeciso entre sua esposa e a escolhida.

Também somos apresentados a casos de que os Matchs de algumas pessoas são do exterior, deixando claro que sua proposta afeta a todos no mundo e mesmo que não conheça seu par, é inevitável se apaixonar, como a protagonista Rebecca e a policial Kate. Enquanto a primeira tenta manter seu relacionamento com Matheus através de mentiras, a outra descobre cada vez mais o passado misterioso de sua nova companheira.


Sobre a personagem principal, Rebecca, podemos pensar se ela realmente possui Transtorno de Personalidade Antissocial, mas fica confuso a partir do momento em que ela sente remorso por suas atitudes e por possuir um amor que queira proteger. Bom, isso é o que pensamos pois suas atitudes estão longes de serem empáticas e éticas, mesmo apaixonada por Matheus, não tenta salvar seu irmão de uma overdose. Até mesmo para sua ascensão, mata o colega de quarto Ben, além de roubar dados confidenciais de sua pesquisa, apenas porque estava em busca de poder e sucesso. Comportamentos como manipulação, descaso com as autoridades, mentiras que lhe safam de ser incriminada e limpam sua imagem pública apenas confirmam seu quadro Antissocial.


Mas Antissociais são capazes de amar?

Como foi discutido acima, existem vária teorias sobre o amor, além de interpretações pessoais de cada um, poderíamos levar horas questionando e discutindo sobre este tema, mas um argumento deve ser considerado como certeza, o amor é uma relação com outro que possuímos alguma afeição ou desejo, mas que é necessário compreensão e respeito mútuo. Algo que o Antissocial não teria.

Explicando-me melhor, eles são capazes de sentir afeição ou desejo pelo próximo, mas isto não quer dizer que sentem empatia, sua relação com o próximo seria apenas em busca de satisfazer-se, - sexualmente, economicamente, socialmente, ou de alguma outra forma - ou apenas buscaria formas de ter vantagens com esta relação. Então não seria amor propriamente dito, seria apenas manipulação.


Independente das questões mentais e sociais que a série aborda, sua nova visão sobre o amor está fora de nossa realidade. Para amarmos alguém de forma saudável é necessário trabalho, compreensão e mudança. Normalmente é preciso esforço para que a relação mantenha-se e perdure. E não é nem um pouco inteligente manter uma relação afetiva sustentado apenas pela atração, é preciso empatia e cooperação.

Gostaria de finalizar com uma frase que o personagem Doutor disse em sua série - Doctor Who - que retrata este assunto sobre o amor que discorremos neste texto, algo que pode perdurar por anos e anos, até mesmo décadas, talvez para sempre:

“O amor não é um sentimento, é uma promessa”



Referência:

Silva, P. O. M., Trindade, Z. A., Junior, A. S. (2013). Teorias sobre o amor no campo da Psicologia Social. Psicologia: Ciência e Profissão, 33(1), 16-31. https://doi.org/10.1590/S1414-98932013000100003

DSM-V, Manual de Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais 5.ª edição.


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