Jogos causam violência! Jogos deixam as crianças e adolescentes agressivas! Jogos são problemáticos!
Todos nós já ouvimos estas frases, mas será que estas afirmações são reais ou possuem alguma base? Antes de mais nada é necessário entender a diferença entre influenciar e causar.
No dicionário podemos encontrar as seguintes definições destas palavras: Influenciar - “exercer uma ação psicológica, uma ascendência sobre (alguém ou algo) ou deixar subjugar-se por esta ação.” e Causar - “ser causa de; originar, motivar, provocar.”. A partir disso podemos entender que influenciar não necessariamente provoca ou origina um comportamento, diferente de causar, este explicitamente é o motivo de um comportamento. Encontrar a causa de um comportamento específico é algo extremamente complicado, requer avaliação de inúmeros contextos históricos e influências passadas.
Podemos concordar então que os jogos possuem uma influência sobre os comportamentos do ser humano, seja positivo ou negativo. Seguindo esta lógica, podemos dizer que os Jogos influenciam a violência e influenciam no comportamento agressivo de crianças e adolescentes. Mas para uma criança/adolescente tornar-se agressiva é necessário outros fatores influenciadores para este resultado, como por exemplo um ambiente hostil, brigas familiares constantes, traumas, negligências, bullyings e por aí vai.
É comum vermos crianças repetindo golpes e movimentos aprendidos após assistir um desenho animado ou jogar vídeo games que possuem conteúdos violentos, ou representar brigas familiares com bonecas e desenhos, é comum também adolescentes descontarem seus sentimentos em comportamentos agressivos, às vezes reprováveis, como brigas, pichações e bullyings. Mas então por que existe tanta crítica contra os jogos? Grande parte se dá por causa do fácil acesso ao conteúdo violento explícito, diferente de filmes ou animações, os jogos permitem a execução de comportamentos violentos virtuais, principalmente atualmente, que crianças conseguem baixar jogos gratuitos diretamente em seus celulares.
A pesquisa de Alencar, Gomide e Wzorek (2011) evidenciou que o nível de agressividade de crianças de 8 a 10 anos aumentou após assistirem o episódio de Dragon Ball Z Gohan vs Cell. Anderson (2001) possui várias pesquisas que comprovam a influência negativa que os jogos têm, mas sempre são feitas em laboratório, para ele o ato de expor constantemente a violência, dessensibiliza a pessoa que passaria achar normal este conteúdo. Mas nenhuma pesquisa foi possível concluir que games causam violência. Inúmeras pesquisas mostram que jogos podem influenciar as cognições das crianças, tempo de sono, aprendizagem, ataques de epilepsia e muito mais.
Mas se existem tantas coisas que os jogos podem influenciar, como posso evitar que influencie negativamente?
Existem inúmeras atitudes que podemos tomar para isso. Uma delas é respeitar a classificação indicativa dos jogos, cada jogo indica qual é o mínimo de idade para jogar tal jogo de acordo com a fase de desenvolvimento que a pessoa se encontra. Não é indicado que uma criança de 9 anos jogue Mortal Kombat ou The Last of Us, mas acaso aconteça é importante um acompanhamento de alguém maior de idade ou responsável que lhe eduque sobre os assuntos abordados, qual conteúdo é fantasioso e o que é certo e errado dentro do jogo. É necessário ficar atento também a cada indivíduo que está consumindo este tipo de conteúdo, se uma criança já possui um histórico de agressividade ou trauma, normalmente não é recomendável que consuma jogos com conteúdo violento.
Claro que bugs, lags, dificuldade dos jogos e outros fatores podem incitar comportamentos agressivos, mas convenhamos que cabe a pessoa lidar com isso, como por exemplo em partidas ranqueadas e competições são momentos de grande estresse que exigem mais do jogador e caso perca tem que lidar ainda com a frustração.
MAS, PORÉM, CONTUDO, ENTRETANTO, TODAVIA
Jogos também possuem influências positivas, jogos podem também diminuir o nível de agressividade, mesmo se forem jogos violentos. Jogos com fator de cooperação ajudam a desestressar e ensinar novas formas de lidar com a agressividade, jogos sem violência possuem esta influência também, mas de forma mais assertiva.
Kato e Beale (2006) perceberam que um jogo de ação sobre câncer pode ajudar no autocuidado durante o tratamento de câncer, além de auxiliar o trabalho de enfermeiros usando este jogo como ferramenta para melhorar a compreensão destes pacientes. Matsuda e Hiraki (2006) analisaram a melhora na atividade cerebral em crianças com os jogos Melle (um jogo de luta) e Tetris (um jogo de quebra cabeça).
Jogos podem ensinar perseverança, mentir, empatia, vingança, dirigir um caminhão, lutar, cuidar de uma família, companheirismo, solucionar problemas, construir uma cidade e inúmeras outras coisas. Assim como filmes, desenhos, animes, escolas, educação familiar, jogos são apenas mais uma de várias influências que temos no percorrer de nossas vidas, cabe a nós percebermos e utilizarmos ao nosso favor.
Referências:
Anderson, C., Bushman, B. J., Ihori, N., Rothstein, H. R., Shibuya, A., Swing, E. L., Sakamoto, A., Saleem, M. (2010) Violent Video Game Effects on Aggression, Empathy, and Prosocial Behavior in Eastern and Western Countries: A Meta-Analytic Review. Psychological Bulletin, 136(2), 151–173.
Alencar, M. S. O., Gomide, P. I. C.,& Wzorek, L. W. (2011). A influência do desenho animado violento no comportamento agressivo de crianças. Revista Eletrônica da Faculdade Evangélica do Paraná, 1(2), 62-68.
Kato, P. M., & Beale, I. L. (2006). Factors affecting acceptability to young cancer patients of a psychoeducational video game about cancer. Journal of Pediatric Oncology Nursing, 23, 269-275.
Matsuda, G., & Hiraki, K. (2006). Susteined decrease in oxygenated hemoglobin during video games in the dorsal prefrontal ídeo: A NIRS study of children. Neuroimage, 29, 706-711.
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